Arte

Intenção humana

Intenção humana
(Imagem: “Roda da Fortuna” – Arthur Bispo do Rosário)

Hoje vou contar uma história. Escrevo no dia 05 de novembro de 2021, 16:03 horas.

Há dois meses mais ou menos eu venho recebendo e enviando e-mails com uma pessoa que intermedia um negócio que estou realizando. Tudo formal, pedidos de documentos, envio de documentos, análises de propostas, respostas, novos documentos, novos envios, dúvidas, formulários.

Mas no meio disso eu resolvi, junto com os documentos, dizer das banalidades do cotidiano para esta pessoa. “Vou arriscar o laço, vou soltar armaduras, dar um passo no vazio”, pensei.

Comecei como quem escreve um relato dos dias, se choveu, se não choveu, se esfriou ou se esquentou. Em um deles, disse: 

“Estou bem, sim, naquilo que dá neste mundo cão…rsrsrs. Mas hoje choveu aqui, abriu o sol e agora começou a soprar um vento mais frio. Acho que chove de novo. É bom que chova pq estamos com falta de água aqui e há dois anos fazendo rodízio. Dia sim, dia não falta água. Tô achando que deu ruim pra humanidade… precisamos cuidar melhor do mundo. Mas que bom que deu tudo certo. Pode ser dia 04.

Obrigado,

Wagner.”

Eu ficava imaginando que a pessoa deveria estar pensando “pronto, achei um doido”. Mas, acho que por receio (louco a gente não contrária, né?) ou educação, a pessoa começou a me responder, dizendo que lá não abriu o sol e a previsão era final de semana com chuva, sem mais prolongamentos. 

Hoje eu perguntei sobre uma questão que estava pendente e disse que estava nublado, mas parecia que o sol iria aparecer. Disse também que teria visita das amigas da minha filha e que a Frida, minha cachorra, destruiu o sofá de casa, que ela toca o terror, que foi castrada semana passada e está de roupinha cor-de-rosa, que trabalho de casa e espero logo voltar ao mundo, acho que todo mundo quer algo assim. Também disse, como uma prova de que eu não era louco, que lhe falava sobre estes cotidianos porque sabia que, por trás das formalidades burocráticas da vida, haviam pessoas com seus mundos e histórias. Só tinha intenção de deixar aquilo um pouco mais humano.

Foi aí que a pessoa lá do outro lado de não sei onde, me respondeu:

“Wagner, fiquei muito feliz de receber seu e-mail. Veio em um momento tão oportuno…. você nem faz ideia rsrs Muito obrigada por compartilhar! Obrigada meeesmo rsrs. Abraços!”

Eu faço ideia, eu faço ideia por mim de como somos feitos de palavras, palavras que podem mudar o dia, criar sonhos, histórias, se vai chover, se o cachorro está bem, se vai dar certo, se deu ruim, se sentimos muito, se bom dia, se atrasou, se venceu… 

Pronto. O final de semana chegou.

Wagner Rengel

Wagner Rengel quis ser silêncio depois pássaro depois peixe depois vento depois grilo quis ser gente depois nada. Mora em Curitiba.

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