
Ah, quando pisco os olhos, quase que choro sem aviso.
Tem horas que parece que tudo acabará quando o sol nascer.
Caduco de sonhos, acorda cada vez mais cedo, às vezes até antes do sol e tem certeza que ouve o primeiro fiapo de luz inundando esse sul de mundo.
Nessa hora, pisca profundo.
E nada acaba, tudo só recomeça num rodízio de esperanças, cansaços e forças.
Coragem, coragem.
E quando nada acontece é bom dar água aos passarinhos.
Um ritual cúmplice de voar vendo voar. E pousar.
É a hora das esperanças.
Piscam sorrisos cantados.
Coragem, coragem.
O sol sobe rápido e tem tanto e tanto, frenéticos carros, estridentes motos e os selvagens agridem menos.
Eu já não sei mais quem são os selvagens.
Desisto das notícias, faz tempo, mas elas insistem sem querer e o nó machuca meus dedos. Desato.
É a hora dos desânimos, vários, longos.
Pisco lento suspiro esforçado.
Coragem, coragem, disse a menina da história.
Vejo miragens no horizonte que eu sei que são.
Eu sei.
Coragem.
(Está pequena poesia, e eu já não sei mais o que é isso, foi escrita depois que li um livro chamado “Clara e o homem na janela”, de Maria Teresa Andruetto e Martina Trach. Um livro para a infância que não é infantil e de uma beleza singular que recomendo vivamente).

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