Arte

Wagner Rengel: Miragem

Wagner Rengel: Miragem
Arquivo Pessoal

Ah, quando pisco os olhos, quase que choro sem aviso. 

Tem horas que parece que tudo acabará quando o sol nascer. 

Caduco de sonhos, acorda cada vez mais cedo, às vezes até antes do sol e tem certeza que ouve o primeiro fiapo de luz inundando esse sul de mundo. 

Nessa hora, pisca profundo. 

E nada acaba, tudo só recomeça num rodízio de esperanças, cansaços e forças. 

Coragem, coragem. 

E quando nada acontece é bom dar água aos passarinhos. 

Um ritual cúmplice de voar vendo voar. E pousar. 

É a hora das esperanças.

Piscam sorrisos cantados.

Coragem, coragem.

O sol sobe rápido e tem tanto e tanto, frenéticos carros, estridentes motos e os selvagens agridem menos. 

Eu já não sei mais quem são os selvagens. 

Desisto das notícias, faz tempo, mas elas insistem sem querer e o nó machuca meus dedos. Desato. 

É a hora dos desânimos, vários, longos. 

Pisco lento suspiro esforçado.

Coragem, coragem, disse a menina da história.

Vejo miragens no horizonte que eu sei que são. 

Eu sei. 

Coragem.

(Está pequena poesia, e eu já não sei mais o que é isso, foi escrita depois que li um livro chamado “Clara e o homem na janela”, de Maria Teresa Andruetto e Martina Trach. Um livro para a infância que não é infantil e de uma beleza singular que recomendo vivamente).

Wagner Rengel

Wagner Rengel quis ser silêncio depois pássaro depois peixe depois vento depois grilo quis ser gente depois nada. Mora em Curitiba.

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