Evandro perdeu o pai
Thiago perdeu a mãe
Melissa perdeu o tio
São primos
Meus primos
Meus tios
A vizinha da frente se foi
Choraram
O pai do amigo está entubado
Desesperado
O artista acabou
Faz um ano que se matou
Outros também
Se foram
Ontem
Hoje
Agora
E eu aguento porque escrevo
Capenga
Mas tenho medo
Muitos têm medo
Tristeza
Doença
Bala
Fome
Enlutados
Abandonados
Órfãos
Desamparados
Choram mães
Choram filhos
Choram amigos
Choram homens
Choram mulheres fortes
Choram crianças esquecidas
Abismos entre cores
Valores
Extermínio
Genocídio
Suicídio
E a bala vale mais
E a grana vale mais
O céu é cinza
O chão é vermelho
A vida é banal
É nada
Gatilhos
Canalhas
Canalhas
Canalhas
Tudo isso só para dizer
O meu mais profundo desejo
Que todo luto vire verbo
Que todo luto vire verbo
Que todo luto vire verbo
Ainda não acabou.
Wagner Rengel quis ser silêncio depois pássaro depois peixe depois vento depois grilo quis ser gente depois nada. Mora em Curitiba.
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